segunda-feira, 26 de maio de 2014

TJ DO RIO DE JANEIRO ELEGE A PRIMEIRA DESEMBARGADORA NEGRA DO ESTADO

TJ elege primeira desembargadora negra do estado

  • Juíza Ivone Ferreira Caetano, titular da 1ª Vara da Infância da Juventude e do Idoso, foi a escolhida
  • Seleção aconteceu na tarde desta segunda-feira
SIMONE CANDIDA (EMAIL·FACEBOOK·TWITTER)
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A juíza Ivone Caetano, da 1ª Vara da Infância da Juventude e o do Idoso, pode tornar-se a primeira desembargadora negra do estado
Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
A juíza Ivone Caetano, da 1ª Vara da Infância da Juventude e o do Idoso, pode tornar-se a primeira desembargadora negra do estado Pablo Jacob / Agência O Globo
RIO - Primeira mulher negra a se tornar juíza do Tribunal de Justiça do Rio, há 20 anos, Ivone Ferreira Caetano, de 69 anos, titular da 1ª Vara da Infância da Juventude e o do Idoso, agora acumula um novo aposto ao seu nome: o de primeira desembargadora negra do estado. Nesta segunda-feira, o Órgão Especial do Tribunal de Justiça votou a promoção de um novo magistrado ao cargo de desembargador. Ivone era uma das mais cotadas. A juíza, que teve infância pobre e só conseguiu ingressar na escola de magistratura em 1994, aos 49 anos, é a segunda mulher negra do Brasil a exercer o cargo. Ela tomará posse às 17h.
Havia 16 juízes candidatos à promoção pelo critério de merecimento para a vaga do desembargador José Carlos de Figueiredo, que se aposenta. Segundo a assessoria do Tribunal de Justiça, eram nove mulheres concorrendo ao cargo, incluindo Ivone Caetano. O magistrado Gilberto Fernandes foi o primeiro negro a ocupar o cargo de desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, em 1988.
Filha uma lavadeira que criou sozinha os onze filhos, Ivone Caetano tem uma história de luta pela sobrevivência e contra o preconceito. Estudou em colégio público e em algumas escolas particulares de "baixo custo" e, aos 18 anos, foi trabalhar como digitadora do IBGE. Para ajudar a família, chegou a acumular o trabalho com outros dois serviços, passando a ter três empregos ao mesmo tempo. A oportunidade de cursar a faculdade de Direito, ela já contou em entrevistas, veio aos 25 anos, depois do casamento. Só com ajuda do marido teve como parar de trabalhar e dedicar-se aos estudos.
Desde 2004 à frente a 1ª Vara da Infância, Ivone Caetano, já atuou como juíza da infância em Belford Roxo e São João de Meriti. Considerada linha dura, já tomou decisões polêmicas. Foi a primeira magistrada a determinar a internação compulsória de menores usuários de crack que vivem nas ruas do Rio. E em 2012, a juíza determinou a primeira internação compulsória de um adulto usuário de crack no Rio: uma mulher de 22 anos, grávida de oito meses.
Em setembro do ano passado, uma canetada da juíza, em conjunto com o Ministério Público, chamou à responsabilidade os pais dos adolescentes que passavam uma semana acampados em frente à Praça da Apoteose. A Justiça e o MP determinaram que o Conselho Tutelar identificasse os responsáveis pelos menores, que teimavam em passar a dia e noite. A Secretaria municipal de Ordem Pública também foi notificada. "Para determinar a proibição de acampamento de crianças e adolescentes na via pública, inclusive para frear os excessos da prática de idolatria".
Além de ser favorável ao recolhimento de menores usuários de crack aos abrigos públicos, Ivone Caetano também já declarou ser contra a esmola. Citando a educação que recebeu da mãe, em entrevista ao GLOBO ela afirmou “ser terrivelmente contra” por achar que dar esmola só “serve para apaziguar a culpa pela nossa omissão”.
— Sou de classe muito pobre, mas minha mãe proibia que aceitássemos qualquer coisa de alguém. Se não fosse isso, eu não estaria aqui, continuaria esmolando até hoje. Ela era lavadeira, empregada doméstica, sem escolaridade, mas nos ensinou a ter autoestima e incutiu na nossa cabeça que podíamos fazer o que quiséssemos, bastava querer. "Apanhando ou não, vai em frente. Não vai ser fácil, vai demorar um pouco mais, mas você consegue". Não errou a mão, todos os filhos atingiram suas metas — disse a juíza, em entrevista à coluna “Dois Cafés e a Conta”, da Revista O GLOBO.
Ela conta que já foi várias vezes vítima de preconceito por ser mulher e negra:
— No Brasil, todo negro vai ser vítima de racismo, preconceito, discriminação, esteja no patamar que estiver. Mas nosso preconceito é dissimulado e hipócrita — afirmou ao GLOBO, em 2011.


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